Arquivo Histórico

 

O arquivo histórico da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, correspondente a cerca de 75 metros lineares de documentação produzida entre a fundação e meados do século XX, plasma a história de mais de 400 anos da vida da instituição, no seu funcionamento interno mas também na sua densa relação com a comunidade em que se implanta e com os contextos mais alargados de sucessivas épocas históricas.

Afirmando-se desde o segundo quartel do século XVI como uma peça-chave da vida cívica do burgo, a Misericórdia de Ponte de Lima assumiu perante o seu meio uma função assistencial de charneira, contando-se entre os seus encargos a manutenção de hospitais, o apoio espiritual e material aos presos e o amparo dos sectores marginalizados da sociedade concelhia; historicamente, e fruto de legados testamentários específicos, foi saliente o seu apoio a mulheres desvalidas, a dotação de raparigas órfãs e o resgate de cativos. Em resultado do campo de incidência da sua acção benemerente, os seus arquivos plasmam uma panorâmica eclética do povo limiano ao longo de vários séculos, e prestam ao historiador um testemunho valioso sobre a realidade sócio-cultural da região, compondo um mosaico prosopográfico de rara diversidade.

Com o tempo, e fruto do ramificar da sua influência, a instituição foi também contribuindo para a moldagem da paisagem urbana e do seu entorno, bem como para o enriquecimento do culto, das devoções e do imaginário das gentes limianas.

Paralelamente a estas vocações, no contexto da expansão ultramarina portuguesa, a instituição veio a assumir um papel importante ao nível da articulação entre a comunidade local e a vasta realidade do império. São extensos e preciosos os testemunhos arquivísticos da sua relação com as Misericórdias estabelecidas nas praças portuguesas do Oriente, sobretudo nos séculos XVI e XVII, e posteriormente (entre meados do século XVII, no século XVIII e no século XIX) com o Brasil colonial. Fruto da ampla e dinâmica rede institucional em que se inseria, a Misericórdia limiana constituiu-se, no meio provincial do Alto Minho, como desenvolta placa giratória entre diversos espaços do mundo português, assegurando o contacto das suas gentes e famílias, ou o trânsito dos seus capitais; foi ainda através destes canais de correspondência assídua e segura que muitos naturais de Ponte de Lima e da região circunvizinha, vivendo e morrendo além-mar, formalizaram os seus testamentos e legados, assegurando uma aplicação duradoura dos seus proventos no torrão natal.

Sob o título Malhas que o império tece: entre o local e o global no arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima (séculos XVI a XX), o acervo documental da Misericórdia de Ponte de Lima foi objecto de um projecto de descrição e digitalização comparticipado pelo Programa Iberarquivos entre 2024 e 2025, desenvolvido em parceria com o Município de Ponte de Lima, com vista à sua integral disponibilização online em regime de acesso aberto na plataforma do Arquivo Municipal de Ponte de Lima: https://pesquisa-arquivo.cm-pontedelima.pt/descriptions/1118771