SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE PONTE DE LIMA
487 ANOS DE DEDICAÇÃO E ESPÍRITO SOLIDÁRIO
As necessidades profundas e as situações de dificuldade por que passam muitas pessoas que connosco se cruzam não são exclusivas da história do presente. Desde sempre foi necessário acudir a pessoas com mais carências e socialmente desprotegidas.
Na Idade Média, o povo representava o elo mais fraco de uma sociedade dominada pela força da nobreza e do clero. Muitas pessoas viviam abaixo do limiar da pobreza, escravizadas, dominadas. Mesmo assim, o teocentrismo vigente alimentava-lhes a fé e a crença num Deus carinhoso que mais cedo ou mais tarde retribuiria a cem por um.
Muitos percorriam os caminhos da sua devoção em busca desse amor mais alto que os poderia compensar depois de uma peregrinação a um lugar sagrado. Outros eram atormentados por doenças sem cura. Outros, ainda, viviam uma vida de miséria, muitas vezes envergonhados no nada da sua existência.
Para minimizar todo este quadro de desgraça, começaram a aparecer albergarias, hospitais e outras ofertas que, pelas mãos da Igreja, sobretudo das ordens religiosas apoiadas pela nobreza, iam ao encontro das carências de um povo em desgraça.
É neste contexto assistencial que surgem as Misericórdias em Portugal. Foi decisiva a intervenção de D. Leonor, irmã de D. Manuel I, que em 1470 se tornou Rainha ao casar-se com D. João II.
D. Leonor de Portugal (ou D. Leonor de Lencastre) esteve na origem do hospital termal das Caldas da Rainha, destinado a continuar a assistência a quem dela precisasse, independentemente da classe social a que pertencia. Mas a obra de maior envergadura, de assistência aos mais necessitados, consistiu na fundação, em 1498, das Misericórdias de Lisboa, perseguindo os ideais cristãos de ajuda ao próximo. Crê-se que a cerimónia da fundação terá decorrido nos claustros da Sé de Lisboa, na capela da Nossa Senhora da Piedade da Terra Solta, onde hoje podemos ver, para além da dita capela, uma lápide a assinalar a efeméride, aí colocada em 1985 pela União das Misericórdias Portuguesas, por altura do seu 2º Congresso Internacional.
Capela de N. S. da Piedade da Terra Solta
Lápide fixada na Capela de N. S. da Piedade da Terra Solta
A partir daí, muitas outras Misericórdias foram criadas em Portugal, sempre orientadas por pessoas de boa vontade que se sujeitavam às regras do Compromisso, atentas aos princípios cristãos de amor e ajuda ao próximo. O Compromisso estabelece regras, princípios e orientações destinadas ao bom funcionamento das Misericórdias e a ele foram aderindo todas as Misericórdias.
Primeiro Compromisso
É neste contexto que nasce a Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, fundada em 2 de Agosto de 1530 por alvará de El-Rei D. João III, escrito pela pena de André Pires, como comprova a cópia do documento existente no arquivo da Instituição.
Como muito bem refere o ilustre historiador limiano António Matos Reis, na sua obra Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima no passado e no presente – cuja leitura vivamente proponho – Ponte de Lima foi espaço privilegiado para passagem de romeiros e peregrinos que demandavam Santiago. Terra geograficamente bem posicionada, bem cedo foi contemplada com espaços de assistência como hospitais e albergarias, como o Hospital de S. Vicente dos Gafos (1177) ou o Albergue dos Peregrinos fundado em 1480 por D. Leonel de Lima, Alcaide Ponte de Lima e primeiro Visconde de Vila Nova de Cerveira. Estes vieram a tornar-se, no tempo de D. João III, espaços de serviço e assistência a peregrinos e pessoas necessitadas, agora sob a orientação da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima que, para o assegurar, se valia da ajuda de pessoas de bem que contribuíam com esmolas e doações.
É neste contexto que nasce a Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, fundada em 2 de Agosto de 1530 por alvará de El-Rei D. João III, escrito pela pena de André Pires, como comprova a cópia do documento existente no arquivo da Instituição.
Assim foi crescendo a Instituição. Porque orientada pelos princípios de Deus e da Igreja, também foi ampliando os espaços de culto: a Igreja da Misericórdia atual, situada naquele que era o todo do Hospital da Praça, cortado pelas obras de 1924-1925 para que a rua Cardeal Saraiva pudesse chegar ao rio, é o produto de ampliações sofridas ao longo dos anos sobre a capela da Misericórdia. Gostaríamos que não passassem despercebidas duas peças aí existentes: um relevo em madeira policromada representando N. S. da Misericórdia e o retábulo também em madeira policromada que representa a multiplicação dos pães: o primeiro ao fundo da Igreja e o segundo situado no frontal do altar-mor.
Alvará da fundação da Misericórdia de Ponte de Lima (2 de Agosto de 1530)
Provisão do Arcebispo de Braga D. Frei Agostinho de Jesus (24 de Abril de 1592)
É neste contexto que nasce a Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima, fundada em 2 de Agosto de 1530 por alvará de El-Rei D. João III, escrito pela pena de André Pires, como comprova a cópia do documento existente no arquivo da Instituição.
A Misericórdia alargou o seu campo de ação proporcionando assistência aos presos e neste contexto surge no início do séc. XVII aquela que agora dá pelo nome de Capela de N. S. da Penha de França, junto ao Arco da Porta Nova, por Provisão do Arcebispo de Braga, D. Frei Agostinho de Jesus, de 24 de Abril de 1592, mandada construir para que aqueles presos, instalados na cadeia em frente, pudessem assistir aos atos de culto.
O património foi crescendo face à justiça da causa que a Instituição abraçara: a de concretizar para os mais necessitados os princípios articuladores da doutrina social da Igreja resumida nas Obras de Misericórdia, estimulando benfeitores que lhe foram doando e transmitindo todos ou parte dos seus bens.